0031. Saudade

Saudade

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Sinto uma certa saudade do tempo em que nem sequer com o tempo me preocupava…

Sinto uma certa saudade do tempo em que só o amor me importava…

Sinto uma certa saudade das genuínas emoções d’infância…

Sinto uma certa saudade das emocionantes controvérsias de adolescência que me deixavam os pelos em pé, dos insaciáveis desejos de perfeição…

 

Agora procuro essencialmente o bem-estar…

Agora procuro sobretudo o deleite da vida…

Agora, procuro não só o amor… procuro compreender o que aparentemente não se pode compreender no amor…

Agora procuro não só o requinte… procuro essencialmente sentir[1] o deslumbrante mundo desta admirável viagem…

Sinto uma certa saudade das imagens deslumbrantes da adolescência que continuamente afloram no meu ecrã mental… mas agora, que já se foi o recalcado medo de as ocultar à consciência, solto-as e deixo-as desfrutar o momento[2] do corpo…

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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-01-12
Imagem: Internet
Obs: Saudade da infância
Direitos reservados.
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[1]Sentir e viver
[2]Presente

0030. Fim

Fim

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Não posso reter o tempo nem tão pouco o pensamento…

Um rouba-me uma vida de excelência…

O outro a excelência[1] de uma vida.

 

Limito-me à efemeridade de sentir e contemplar esta constante metamorfose…

Absorto em Porquês…

De Princípios, Meios, Fins…

Para os quais me falta tempo, fé e pensamento.

 

Ao ver as Lágrimas Finais de Dali[2] percebi o “seu-medo-do-Fim”

O Fim que ainda não senti!…

Tão somente o medo do seu medo… do Fim.

 

Limito-me à contemplação efémera destas cinzas…

Ausência absoluta…

Simples grãos de nada que resplandecem sob o olhar do dia a dia…

 

Limito-me à reflexão do Agora…

Um tempo…

Cujo tempo…

Se perderá irremediavelmente na efemeridade do próprio tempo…

Tempo ao destempo…

Como se tempo não existisse…

Nada!

 

Limito-me a perpetuar o pensamento…

Noutro tempo…

Noutra palavra de Vida…

Ainda que a vida da minha palavra já se tenha apagado.

Outro Tempo será!

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-08-04
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1]Tranquilidade
[2]Salvador Dali – imagens que vi pouco antes do seu Fim.

0029. Resta-me

0029. Resta-me

0029_Resta-me_e

Resta-me esta imprecisão…

Resta-me a pureza destas simples palavras que naturalmente brotam das entranhas do meu ser…

Não tenho “engenho” nem “arte” para epopeias ou estruturas rígidas e refletidas…

Gosto do prazer imediato que o mundo interior me confere, cultivando com naturalidade a possível racionalidade… a possível coerência humana…

Gosto de procurar o caminho que julgo mais próximo[1], mais calmo, em oposição à louca correria[2] do mundo exterior que ninguém sabe como terminará…

 

Gosto do momento deste Sentimento[3]

Gosto de soltar a relatividade da sua imagem…

 

Gosto do momento deste Pensamento…

Gosto da claridade deste contemplar, a substância[4] que me permite pensar e desfrutar toda a impotência-do-conhecimento…

Gosto de conhecer… e desconhecer tudo o que me rodeia…

 

Gosto do que Vivo…

Gosto do que Vejo…

O quão pequeno sou…

O quão pequeno é o meu mundo perante a imensidão do Universo…

 

Resta-me interferir com realidade que me rodeia…

Resta-me interferir com o que posso alcançar…

Neste precioso momento….

Neste precioso tempo…

 

Resta-me desenhar este mundo de imagens…

Resta-me articular e artificiar este mundo de sinais e símbolos sem me preocupar com regras, Porquês, Verdades ou Fins… -ténue imagem literal de vida[5]

Algo será![6]

 

Resta-me o Sonho…

Uma débil ponte entre uma vida de místico êxtase[7] e a extasiante realidade do dia-a-dia…

Como se de um sonho se tratasse…

Quero simplesmente viver plenamente a realidade deste mundo!

 

Resta-me essencialmente viver!

Resta-me essencialmente amar!

Resta-me esta arte[8] de comunicar!

 

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-XX
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1]Correto
[2]Falso progresso
[3]Constatar
[4]Vida
[5]De livro
[6]Este mundo
[7] Pessoana
[8]Necessidade

0028. Sentir-pensar-criar

0028. Sentir-pensar-criar

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Eis-me, mais uma vez, perante mim…

Eis-me, mais uma vez, manifestando toda esta cognoscente necessidade de exteriorizar…

Impulsos recônditos embebidos de emoção…

Trazer todas estas imagens à luz da consciência e manifesta-las neste intelecto, deixa nos lábios um delicioso sabor a arte…

Tornar comuns, todos estes vocábulos…

Aperfeiçoar o gesto de sentir-pensar-criar, como o natural hábito de respirar, tornar o mais límpido possível o abstrato, aproximar a Possível-verdade… vivendo simplesmente o presente com todas as suas naturais omissões -até as mais ocultas, onde usualmente inscrevo apenas as mais secretas imagens mentais de realidade -e vendo nascer um suposto livro de natural estrutura de vida, dividido por Capítulos de Tempo é desejo imediato, imperfeito, ainda que ficcionar seja já em si errar (um erro a juntar a tantos erros!)… eis a que aspiro!

A melhor arte literal, a mais pura, a mais autêntica, é esta autêntica realidade!

 

*

 

Ás vezes sinto que não me divido o suficiente, que não participo, ou não cuido da imagem intelectual dada por entre um copito e dois dedos de conversa, que me permitiria afirmar-me perante o circulo de amizades que me envolve… chego mesmo a distanciar-me, criando apenas o circulo restrito e algo selecionado; na verdade gosto de me afastar e divertir-me comigo mesmo. Nessas ocasiões sou mais intenso, mais profundo… como se convivesse com a mais perfeita e interessante das companhias.

 

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-11-12
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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0027. Sensação de liberdade

0027. Sensação de liberdade

Liberdade_b.jpg

Vivo sem medo…

Escrevo sem medo…

Liberdade plena.

Experimento uma vasta plenitude intelectual… uma vasta sensação de liberdade e de espaço…

 

Por vezes um qualquer som exterior irrompe, mas passa como o vento no deserto, não despertando em mim mais do que uma banal indiferença…

É este Silêncio que me absorve e me perturba…

É esta Liberdade que me abre as portas da imensurabilidade… da meditação plena…

O ponteiro do tempo continua a sua imparável correria e não adianta quebrá-lo ou retê-lo na palavra porque foge… foge como o vento. Se estivesse no campo ou na praia, com certeza que o sentiria tocar-me -e tão-somente tal, já que possivelmente não o pensaria, como agora o faço, mergulhado nestas quatro paredes de um quarto[1]… de tempo!

Um quarto de hora de liberdade… de silêncio… e tão-somente restam alguns insignificantes ruídos de pensamento já irremediavelmente ofuscados no passado. Da sua essência resta esta letra…

Mas eis que nesta efémera e momentânea frequência emerge a suprema sensação:

A consciência plena do Ser-Algo. A satisfação plena do neste preciso momento ser Eu.

Emoção plena.

 

*

 

Regresso à realidade ainda algo embebido no que realmente sinto…

Por vezes nem o que sinto, ou pelo menos penso, sei… algo sinto quando me belisco, como agora o faço… -a dor física é prova disso!

Sinto a liberdade desta admirável luta intelectual no mais íntimo do meu Ser… poderia neste momento abandonar-me e esquecer-me do tempo no seio do meu universo de amizades, ou tão-somente esvoaçar pelo mundo como uma andorinha que livremente rompe o céu… -como seria fácil!… mas não consigo… não posso!

Gosto de sentir-me assim!

Gosto desta Liberdade suprema!

Gosto de Pensar-me!

Gosto de Acariciar-me!

Gosto de aproximar-me da Possível-Verdade!

Gosto de aproximar-me da Possível-Realidade!

(ainda que tão levianamente o faça)

Não sei até que ponto a irei abarcar…

Mas que importa…

Bastar-me-á esta voluptuosa satisfação de continuamente tentar… esta persistente liberdade de sentir… pensar… amar…

Bastar-me-á esta liberdade deste desmedido desassossego.

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-25
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Obs: Sensação de liberdade…
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[1]Físico

0026. Linguística

0026. Linguística

Linguística_b.jpg

Descobri a Linguística…

Depois da Língua, descobri a Linguística… e neste agradável esforço cognitivo de compor, comecei também a ponderar o próprio desempenho linguístico (especialmente a verbalidade), na possibilidade de não me limitar a pensar da forma simples e libertina que descuidadamente sempre tenho vindo a adotar…

Um exíguo esforço… (porque não?) por uma linguagem algo mais estruturada, mais metódica e sobretudo mais cuidada…

Usar adequadamente a língua é inegavelmente benéfico não só à dimensão do Meu-mundo, mas especialmente à assimilação do que eventualmente o deseje abraçar e abarcar…

Usar adequadamente a língua é inegavelmente indispensável ao domínio e articulação… ao desenvolvimento e organização de capacidades intelectuais e fundamentalmente a uma maior facilidade de assimilação e conhecimento, de intervenção na realidade exterior e interior…  -consequentemente uma melhor e mais perfeita comunicação…

“A linguagem define o homem” – li algures – “é através dela que o homem se assume perante o seu mundo”; o seu pensamento, as suas ações, os seus sentimentos…

Enfim, quem diria… eu aqui fazendo uma pequena e metódica divagação sobre o meu próprio discurso… procurando comunicar o melhor possível para satisfazer toda esta insaciável necessidade, este estado de emoção psíquica… e transformar em palavras audíveis todos os conteúdos de consciência, que, em determinados momentos, a vida nos oferece pensar…

 

*

 

Que desmedida satisfação esta de escrever sobre o que escrevo e sobre a forma mais ou menos correta como o faço!

Não é, realmente, fácil estabelecer objetivamente uma correspondência formal entre a linguagem e a realidade interior[1] e uma eventual exterior[2], mas é uma delícia este lutar constante com as regras e ver como dos signos emergem mares de conteúdo…

Agora…

Não quero sofrer a incapacidade…

Não quero sofrer a complexidade…

Não quero sofrer a imensidade…

Agora…

Apenas pretendo evitar a incorreção… descrever o mais concretamente possível a simples proposição: Água… e a vontade inerente, objetiva, mais elementar e transparente dos líquidos: a sede… a sede de viver!

E tenho sede!… tenho muita sede!

Tenho necessidade não apenas do precioso líquido, mas, sobretudo, tenho sede de expressar e compreender logicamente o que sinto e penso!

Não é de todo perfeitamente linear transmitir conceitos abstratos, sem induzir interpretações divergentes, ou mesmo até conduzir ao próprio erro, mas, o uso da forma mais correta possível da linguagem escrita ou verbal, simplifica a sua assimilação uma vez que é através dela que acabamos por esclarecer/compreender conceitos como Razão, Lógica, Verdade…  até mesmo o equívoco ou a própria banalidade do pensamento!

O signo é hoje pouco “conhecido”, de muito difícil formulação e de mais difícil assimilação… e é do seu desconhecimento que muitas palavras como estas não são minimamente percetíveis!

 

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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-11-19
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Obs: Tenho sede… tenho muita sede!
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[1] Pensamento
[2] Mundo exterior… realidade…

0025. Universo intelectual

0025. Universo intelectual

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Perante toda a realidade humana, que se perpetua no mais maravilhoso mistério…

Perante toda a amplitude Universal, que se perpetua no mais deslumbrante mistério…

Perante toda esta consciente incapacidade de abarcar sequer a minha insignificante realidade…

Resigno-me.

Resigno-me e limito-me a saborear a Vida!

Resigno-me e limito-me a delinear todo este precioso universo de intelectualidade onde constantemente me debato.

Mergulho sem saber se a algum lado chegarei… ou sequer ao Fim que terei!

Mergulho acompanhado por Mim… neste admirável vastidão, na mais pura e ampla liberdade (a reflexão clama por calma, plenitude não apenas exterior mas sobretudo interior) …

Eis que afloram, numa incrível sobreposição de conteúdos, imagens reais e imaginárias…

Eis que afloram, num magnificente atropelo psíquico pintando toda esta paisagem de sonho/realidade…

Independentemente do seu próprio significado, ou do sabor que despertam, eis que fica a relatividade destas associações simbólicas deixadas ao sabor da futura realidade…

 

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-??
Imagem: Internet
Obs: Resigno-me…
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0024. Mundo

0024. Mundo

0024_Mundo_existencial_b

Quem não pensa, ainda que ocasionalmente, na perda do seu Mundo?[1]

Outros-mundos-continuarão, mas pela minha perda Nada serão!…

Não haverá Meu-Mundo do Mundo… tão somente Mundo fora do Meu-Mundo-perdido!

Urge uma dor caótica, imensa, uma recusa metafísica à essência, um pavoroso fechar d’ olhos, um devolver da mente e corpo… à legitimidade da Vida!

 

Penso o corpo da realidade…

Penso a exaltação máxima dos sentidos…

Penso abandonar todas as Metafísicas e todas as possíveis respostas para aquele atemorizador pensamento inicial…

Penso naquele rosto de mulher e imagino infielmente as suas palavras nuas e cruas…

Penso na banalidade de palavras como estas…

Mas apenas para deixar de pensar na sensação de pensar na perda do meu Mundo existencial.

 

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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-08-22
Imagem: Internet
Obs: Perda do “mundo-existencial”
Direitos reservados.
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[1]Eu

0023. Canto e encanto

0023. Canto e encanto

0023_Canto e encanto b

Este encanto que naturalmente canto

Encanta o canto e o pranto que vivem em mim

Encanta desde o princípio meio até ao fim

Encanta admiravelmente porque assim o canto

Encanta este alegre palhaço de puro sentimento

Encanta este livre pássaro que voa plenamente

Encanta quem quiser rir e voar superficialmente

Encanta quem quiser apenas viver este momento

Porque é neste momento que pode ser alguém

Porque é neste momento que pode amar alguém

Não sendo canto nem encanto de ninguém

Canto que canta e encanta leva-o o vento

Leva o canto e encanto deste mero pensamento

Leva o canto e encanto do mero entendimento

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-??
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Obs: Conhecimento…
Direitos reservados.
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0022. Nada

0022. Nada

Nada_c

Por momentos admiti[1] a Verdade do Fim…

 

Quem não pensou já na finitude do seu Eu… em Nada?!

Quem não sentiu já a imagem da perda do seu Mundo-existencial? (o Nada-do-Nosso-Mundo derramado pelo Mundo… em Cinzas-de-nada… -só um insensível não o admitirá… até o mais integro e perfeito dos ascetas se terá interpelado: “e depois?!”).

 

Por momentos admiti[2] a Verdade do Fim.

 

Admiti a mortalidade.

 

Admiti ser um simples animal do mundo.

 

Admiti ser tão-somente este Presente.

 

Perante o chão da minha consciência deparo com o eterno abismo Humano.

 

Perante a consciência do meu chão deparo com a efémera realidade da Vida.

 

Magoa pensar a Verdade-Possível do nosso Ser…

Afrontar esta simples abstração… eis a minha única fé!

Enfrentar esta simples e efémera sensação de Ser que admite contemplar… contemplá-la… é algo maravilhoso!

 

Beijos, abraços…

Emoções físicas e psicológicas…

Todas as imensas sensações do dia…

 

Nada…

 

A mente perdeu-se em banais-nadas… eventualmente rejeitando a crueldade do… Nada!

 

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-??
Imagem: Internet
Obs: Nada…
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[1]Senti
[2]Senti