0089. Amor primeiro

Amor primeiro

0089 Amor primeiro a

Se bem me lembro, tudo terá começado[1] por volta dos meus quentes doze ou treze Verões…

Se bem me lembro, tudo terá começado num comboio oriundo do Barreiro, quando regressava de férias… umas férias solitariamente desfrutadas na companhia de meus pais entre a límpida linha do meu azul horizonte e o poluído azul do horizonte da Linha[2]… Parede… Carcavelos… Cascais[3]… vagos portos do meu infantil-mar, cujo quartel geral se situava algures numa velha casa de aspeto ruinoso situada no Alto de S. João, mais precisamente na Quinta dos Peixinhos (a casa dos meus tios!) -quando meus pais encontram uns amigos de sua infância. Os pais do meu, então, inocente, Primeiro Amor…

As remotas referências que agora poderão aflorar pecariam por intemporalidade… parte delas perderam-se no seio do Diário I -um pequeno bloco de notas por mim próprio mal encadernado, que morreria às mãos da minha vergonha (queimara-o por considerar não possuir grande valor literário). Adorava-o por ser o meu primeiro Diário… e só mais tarde descobri que, afinal, quem ficara mais pobre fora eu…

(Diário)

«Encontrei-te naquele distante-comboio-de-infância; recordas?

O teu cabelo curto, coberto por um boné de pala, a roupa diferente do habitual, transformava-te no companheiro de brincadeira ideal.

-Dominó, ganhei! -gritavas saboreando exuberantemente o doce prazer da vitória; e explicavas modestamente: -para se ganhar é preciso juntar as frutas certas, não esquecendo as repetidas…

-Meninos! -gritava a minha mãe; não, creio que era a tua -sentada do banco do fundo da carruagem -portem-se bem!

Eis que mais uma gargalhada surgia. Tínhamos acabado de efetuar uma travessura ao velhote que seguia no banco à nossa frente dormindo como uma pedra.

Essa foi talvez a mais bela viagem da minha vida. Porquê?!… Porque era criança e essencialmente porque tu lá estavas!»

Foi com este olhar juvenil que então vira o primeiro encontro.

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Autor: Carlos Silva
Data: Desconhecida
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[1]Tudo começou realmente
[2] Linha de Cascais
[3]Praias para onde ia de férias com meus pais

0088. Não existe

Não existe

0088 a

Não existe verdade na religião porque não existe religião!

Existe um conceito abstrato de religião enquanto imagem mental.

É hipocrisia não distinguir abstração duma representação física ou mental, ou não ter consciência da sua inexistência tal como é supostamente apresentada!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2009-11-10
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0087. Felicidade

Felicidade

Felicidade a

Contenta lutar pela expressão perfeita!

Ainda que perfeita não seja a expressão eleita!

Contenta lutar pela emoção perfeita!

Ainda que perfeita não seja a emoção eleita!

Contenta lutar pelo perfeito Sentimento!

Ainda que perfeito não seja o Pensamento!

Contenta lutar pelo perfeito Momento!

Ainda que perfeito não seja o Entendimento!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2008-11-05
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(133) Contentamento

 

0086. Escrevo

Escrevo

Escrevo a

Escrevo em arte este meu sentimento

Escrevo em arte este meu pensamento

Escrevo em arte este único tempo

Escrevo em arte este único momento

Escrevo em arte esta minha fantasia

Escrevo em arte esta minha utopia

Escrevo em arte esta suprema felicidade

Escrevo em arte esta absoluta liberdade

Escrevo parte deste homem de sonho

Escrevo parte deste homem de realidade

Escrevo parte deste homem de verdade

Escrevo parte deste possível sonho

Escrevo parte desta possível realidade

Escrevo parte desta possível verdade

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Autor: Carlos Silva
Data: 2008-08-13
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0085. Abandono

Abandono

Abandono a

Aaaaaaaaaaa!…[1]

Satisfação…

Abandono…

Abandono total…

Não quero pensar!

Silêncio…

Eis que o tempo de pensar se impõe…

Irrompem fugazes sensações de quase-pensamento…

Silêncio…

Penso que sinto uma insignificante imagem carnal….

Sinto que penso uma insignificante copula mental…

Satisfaz-me pensar esta mera corporação escrita d’ inútil significado…

Satisfaz-me pensar o repouso neuronial desta cópula mental…

Satisfaz-me a plena liberdade física e mental…

Satisfaz-me este abandono…

Silêncio…

Abandonado por tempo ao destempo…

Como se não existisse tempo… nada!…

“Há metafísica bastante em não pensar em nada”[2]

Basta ficar assim… abandonado…

Silêncio…

Que importa o universo racional dum ato de amor?!

Que importa retê-lo em mente…

Se ainda o tenho no corpo!

Ínfima sensação… -que me devorou…

Dele resta apenas, literalmente, estes pedaços de Amor…

Abandono…

Abandono total…

Não quero pensar!

Silêncio…

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-08-17
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[1]Orgasmo
[2] Frase que me ficou na retina quanto li Alberto Caeiro

0084. Caparica

Caparica

84. Caparica a

Férias…

Calor…

Praia…

Agitações…

Emoções…

Sensações…

Corpos escaldantes…

Corpos bronzeados…

Corpos inflamados…

Que despertam o olhar…

Que despertam a líbido…

Que despertam o apetite…

É tempo de despertar o sentimento…

É tempo de repousar o pensamento…

É tempo da quente brisa da Costa da Caparica…

Tempo de descrever simplesmente o contentamento do momento…

Tempo de descrever plenamente a satisfação do momento….

Tempo de descrever levemente a abstração do momento….

Brincam as gotas de água sobre a derme oleosa…

Brincam as cores… amarelo… laranja… vermelho… e as tonalidades, quando ocasionalmente as pálpebras se fecham na direção do astro-rei…

Brincam as ondas, flutuando o corpo…

Até que o sol se esconde majestosamente na linha do horizonte.

*

Um casual passeio à beira-noite…

Uma esplanada…

O vício do café…

A frescura da água sem gás…

O habitual gelado na Renovação[1]

Um ritual de amor…

Que culmina na satisfação do ninho…

Não me apetece descrever[2] o momento…

Apenas amar…

Apenas parar o tempo…

Uma vida plena…

Uma vida sem fantasmas para afastar…

Uma vida sem guerras para disputar…

Uma vida sem muros para derrubar…

Tão somente esta admirável calor…

Tão somente esta admirável serenidade…

Tão somente esta beleza do dia e da noite…

Imagens que espelhem uma realidade…

Incomparavelmente distantes da realidade!

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-08-09
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[1] Praça da Renovação -Almada, esplanada...
[2] Sentir

0083. Apetece-me

Apetece-me

Apetece-me a

Apetece-me libertar este intenso Sentimento

Apetece-me libertar este imenso Pensamento

Apetece-me prender este imparável Tempo

Apetece-me prender este incomparável Momento

Apetece-me libertar este irreverente Animal

Apetece-me libertar este inerente Racional

Apetece-me prender este inocente Natural

Apetece-me prender este inconsciente Divinal

Apetece-me libertar este inseparável Profano

Apetece-me libertar este incontestável Humano

Apetece-me prender este incomensurável Mar

Apetece-me prender este incomparável Amar

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Autor: Carlos Silva
Data: 1997-10-01
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0082. Não sonhem só por Sonhar…

Não sonhem só por Sonhar…

82_a

Não sonhem, sonhos só por Sonhar…

Amem, amem amores só por Amar…

Amem devagar… devagar… devagar…[1]

Amem neste Mar, ao luar… à beira-mar…

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Autor: Carlos Silva
Data: desconhecida
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[1] Ideia original: “Não olhem para a forma como escrevo o que sinto,
mas para o que sinto da forma como escrevo...”
Sintam devagar...
demorem-se em cada palavra, em cada frase, em cada texto...
amem tudo o que fazem… escrevam tal como fazem amor…
devagar… sentido absolutamente…

 

0081. Uma simples história de menino

Uma simples história de menino

81_a

Não sei…

Não sei se esta minha simples história de menino será uma simples história…

Não sei se esta minha simples história de menino será uma simples história, daquelas simples histórias imaginadas por Lennon…

Das histórias onde não existem “paraísos ou infernos” …

Das histórias onde não existem “limites ou fronteiras”[1]

Das histórias onde não existem motivos para “matar ou morrer” …

Das histórias onde não existem “religiões” para “odiar ou venerar” …

Das histórias onde apenas existem seres humanos “vivendo harmoniosamente em paz… numa imensa irmandade”!

Não sei!

Só sei…

Só sei que esta minha simples história de menino é realmente a história de um simples menino!…

Um menino que nasceu e cresceu no seio da sua família… numa aldeia cujo nome não difere de tantos outros nomes de tantas outras aldeias e tantos outros simples meninos e meninas…

Um menino que nasceu e cresceu no mais perfeito clima de paz e liberdade… num bairro como tantos outros bairros, onde, para ir à escola bastava pular um simples muro -o muro da própria casa…

Um menino que nasceu e cresceu numa aldeia, num bairro onde todos se conhecem, onde todos falam e entreajudam, onde não existem ricos nem pobres… -ou pelo menos onde nunca se viu alguém sem pão a implorar por uma esmola…

Um menino que se entretinha a ler livros escolares, tal como se entretinha a ler livros do tio Patinhas, do Major Alvega ou do Búfalo Bill…

Um menino que adorava tocar viola e andar de bicicleta, jogar à bola, às cartas e ao Monopoly com os seus amigos… meninos, como ele, como tantos outros meninos alegres e felizes…

Um menino que no seu crescimento conheceu uma professora, uma verdadeira heroína, multifacetada, omnipresente, a perfeita amiga que ficava sempre até ao fim do dia… que conhecia na perfeição todos os meninos… as mães dos meninos… os pais dos meninos… e até os vizinhos de todos os meninos…

Um menino que no seu crescimento conheceu também uma menina, por quem se apaixonaria, também ela simples, como tantas outras meninas de outras aldeias como esta…

Sei…

Sei esta simples história de um menino porque a conheço na realidade -tal como todas aquelas histórias imaginadas por Lennon!

Ah!… John, sei também que na realidade não é um sonho!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2016-09-06
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[1] Países

0080. Agora

Agora

Agora a

Não sei até que ponto terei engenho e arte para Te desenhar…

Não sei que caminhos deslumbrantes percorrerei, que mistérios desvendarei…

Não sei se passarei de imperfeito na mais perfeita das viagens…

Mas que importa?

Não será a viagem perfeita, mas a Imagem eleita!

Não Te titularei “Agora[1]”!

Ainda que seja Agora a realização, a Verdade-Possível…

Não Te titularei “Bíblia I[2]I”!

Ainda que se trate do diário de um simples ser humano; um (in)consciente animal deambulando sobre a simples coerência-da-mera-racionalidade…

Não Te titularei “Despertar[3]”!

Ainda que se trate de renovação de mentalidade… que invariavelmente, no tempo, acabará por acontecer!

Não Te titularei “Eu[4]”!

Ainda que sejam fragmentos desta minha viagem mental…

Logo Te decidirei.

Fica este afável cerrar de olhos, neste sorriso do tamanho do mundo, por entre o suspiro aconchegado do coração!

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Autor: Carlos Silva
Data: 1999-06-21
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[1] Possível título do Livro
[2] Idem, anterior
[3] Idem, anterior
[4] Idem, anterior